segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Shakespeare & Co.: uma livraria de verdade

Em 1919, uma americana chamada Nancy Woodbrigde Beach -que mais tarde trocaria seu nome para Sylvia em homenagem ao pai, Sylvester-, fundava a primeira Shakespeare and Company em Paris. Primeiro, na rue Dupuytren. Vinte meses mais tarde, no endereço que a tornaria famosa, o nº 12 da rue de l’Odeon, parada -e morada, em alguns casos-, de uma turba de artistas e intelectuais que viviam ou estavam em trânsito pela Paris dos anos 1920 e 1930. Nomes como James Joyce -de quem publicou a obra-prima Ulisses-, Ernest Hemingway, Ezra Pound, André Gide, T.S. Eliott, Gertrude Stein -que mantinha sua própria (e notória) livraria não muito longe dali-, Simone de Beauvoir -na época ainda jovem-, compositores como George Antheil, George Gershwin dentre outros tantos.

Sylvia Beach e James Joyce no primeiro endereço da Shakespeare and Company, o nº 8, da rue Dupuytre. (Foto: Reprodução)

Mas talvez uma das coisas mais significativas -pelo menos para nós, admiradores- seja que, mesmo após seu fechamento forçado, em 1941 (quando Paris fora ocupada pelos nazistas e sua proprietária ameaçada de ter seu estoque confiscado por não ter vendido seu exemplar autografado de Finnegans Wake a um oficial nazista), foi Sylvia ter seu trabalho reconhecido dez anos mais tarde, quando a Shakespeare & Co. ressurgiu pelas mãos de George Whitman -atualmente, um já quase centenário senhor de 96 anos que, sempre que aparece, causa furor entre clientes vindos de todo o mundo.

Sylvia Beach no segundo e mais famoso endereço da livraria, o nº 12, da rue l’Odeon, reduto de artistas e intelectuais que viviam ou estavam de passagem pela Paris dos anos 1920 e 1930. (Foto: Paul Almasy)

Whitman, sobrinho-neto do poeta norte-americano Walt Whitman, não apenas resgatou a essência do lugar, como homenageou sua antiga proprietária alterando o nome de sua livraria de Le Mistral para Shakespeare and Company e conferindo seu nome à filha, Sylvia Beach Whitman, 29, a atual responsável pelo gerenciamento da bookstore parisiense.

 

Shakespeare and Company no atual endereço: 37, rue de Bucherie - à margem do Sena e defronte à catedral de Notre-Dame. (Foto: William Simon)

Sylvia e George Whitman ladeando o ex-presidente norte-americano Bill Clinton (Foto: Reprodução)

História, aliás, que compartilho com vocês na sequência. Primeiro numa matéria do programa Mundo S/A, da Globonews, e, logo em seguida, no documentário (em inglês) Portrait of a Bookstore as an Old Man, produzido pelos franceses Gonzague Pichelin e Benjamin Sutherlan. Divirtam-se:

Mundo S/A com Rodrigo Alvarez e Joana Calmon: todas as segundas às 23h na Globonews.

E agora, o documentário prometido:

Portrait of a Bookstore as an Old Man -documentário produzido por Gonzague Pichelin e Benjamin Sutherlan (França, 2001, 52', VOSE).

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Saiba mais:

Shakespeare and Company: uma livraria na Paris do entre-guerras

BEACH, Sylvia - Casa da Palavra

Saraiva | Cultura

 

Um Livro Por Dia: minha temporada parisiense na Shakespeare and Company

MERCER, Jeremy - Casa da Palavra

Saraiva | Cultura

 

Os Exilados de Montparnasse

CARACALLA, Jean-Paul – Record

Saraiva | Cultura

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Curiosidade:

Atualmente existem duas imitações nada charmosas da Shakespeare and Company em atividade; ambas nos Estados Unidos. A primeira, a Shakespeare and Co. Booksellers, fica na Broadway, em N. Iorque. A segunda é conhecida como Shakespeare and Co. Books e está situada em Berkeley, na Califórnia.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os projetos de Monique

Somente após a banda EX! ser anunciada no line-up do Planeta Terra em 2009, é que o nome de sua vocalista deixou de ser uma incógnita para mim. Mas ao invés de apenas criticar a escolha, resolvi ir em busca de mais informações e acabei descobrindo que ela, Monique Maion, 24, além de estar em meio a quatro (bons) projetos paralelos, MonMaion, Sunset, Die Katzen e EX!, faz parte de um coletivo de artistas que compõem uma parcela bem interessante do que tem rolado de bom no atual cenário independente paulistano.

Do mundo corporativo ao cenário independente

Apresentada pela revista Rolling Stone como a “nova voz paulistana”, Maion estuda música desde os sete anos e compõe desde os quatorze. Formada em canto e, o mais inusitado, em Ciências Contábeis, atuou durante quatro anos na gigante global PricewaterhouseCoopers (firma especializada em consultoria, auditoria e outsourcing) auditando grandes corporações, antes de se entregar definitivamente à música e ao cenário independente.

Rolling Stone Brasil (Foto: Divulgação)

MonMaion

O primeiro projeto -solo, ma non troppo, já que ultimamente tem sido acompanhada por uma banda fixa e com voz ativa no processo criativo- recebeu o nome de MonMaion. Nele, ela encarna a prostituta Lola, descrevendo suas venturas e desventuras, em composições próprias influenciadas pelo blues e pelo jazz e também por nomes do calibre de Tom Waits e Annette Peacock. Isto, claro, acompanhada de excelentes músicos como Fernando Coelho na guitarra e Ladislau Kardos na bateria -ambos do Mamma Cadela; Maurício Biazzi no baixo acústico -integrante da icônica Patife Band de Paulo Barnabé; e Piero Damiani no piano Rhodes, que também toca na Numismata. Recentemente, gravou seu primeiro álbum, Lola -que aliás, ficou bem bacana-, com produção de Luiz Thunderbird.

Monique Maion na pele de Lola, o alter ego que dá vida ao trabalho solo, MonMaion (Foto: Divulgação)

Sunset

O outro trabalho, mais simples e acessível, é uma parceria entre ela e Gustavo Garde, vocalista da  Seychelles -outra banda paulistana bastante competente e já resenhada aqui no blog [leia]. Nele, ambos conseguem imprimir um toque pessoal nas composições que vão do country ao folk e ao rock, desembocando num tropicalismo mambembe e rural que, não  à toa, foi gravado num sítio onde se mantiveram presos, somente quatro meses após terem se conhecido.

Run With Me, destaque do único EP gravado pela dupla, o homônimo Sunset.

Die Katzen

O terceiro trabalho -meu favorito, aliás-, é a banda Die Katzen, de viés mais experimental e eletrônico, que lembra em vários momentos o trip hop do Portishead, só que não com Beth Gibbons no vocal, mas… com Róisín Murphy, a bonita e talentosa vocalista do já extinto Moloko. Com composições que remetem a um “submundo sarcástico, erótico, imprevisível e auto-sustentável”, como ela mesma as descreve em entrevista a Alex Correa da Reverbcity, portal especializado em moda e comportamento indie-rocker, o trio -que também é formado por Renato mCortez (Seychelles) e Ismael Sendeski (Mamma Cadela)- ainda não se apresentou ao vivo e apenas recentemente disponibilizou para streaming seu primeiro EP no Myspace. Altamente recomendável.

EX!

Já em relação ao seu mais recente trabalho, a banda EX!, o enfoque muda e torna-se mais dançante e desencanado, porém não menos bem produzido; aliás, muito pelo contrário. De raiz electro-pop, a banda que recentemente fez parte do line-up do último Planeta Terra, tem direção musical de Arthur Joly, músico que faz um interessante trabalho dentro da música eletrônica, além de ser fundador da gravadora Reco-Head e guitarrista da banda; direção artística de Carlos Pazetto (Brazil’s Next Top Model), referência na produção de eventos e desfiles no mercado de luxo brasileiro; fotografia do stylist Ciro Midena; além de contar com a parceria, diria, estratégica, da Chilli Beans, maior rede de óculos escuros do país e fornecedora de importantes marcas como Forum, Zoomp e Iódice.

Monique se apresentando com a banda EX! no Planeta Terra 2009 (Foto: Divulgação)

Aliás, este último ponto é interessante, pois é muito provável que essa impetuosidade e esse desprendimento mercadológicos sejam reflexos de sua formação acadêmica e também da experiência profissional adquirida em sua passagem pelo universo corporativo, que na medida certa, a afasta do famoso preconceito que diz que negócios, entretenimento e cultura não podem conviver em harmonia.

Making of: EX! se apresentando no Coca-Cola Clothing, festa de encerramento do Fashion Rio deste ano e que teve a produção de Carlos Pazetto. (Vídeo: Arthur Joly)

A Firma

E certamente, não poderia deixar de finalizar este post sem voltar a mencionar o tal coletivo de artistas que Monique faz parte, a Firma. E isto, simplesmente, porque ele compõem um leque interessante de bandas como Mamma Cadela, Seychelles, Ludov, Ancestral, Liga Leve, Sala do Aborto, Heroes, ILoveAmy, além dos projetos já mencionados da cantora e mais alguns outros que ilustram bem -como já havia dito- o atual cenário independente paulistano. Ouça sem preconceito.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

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Veja também:

Monique Maion gravando Monkey Skull, do álbum Lola, para o quadro 10 Horas no Estúdio do programa Radiola (Trama).