terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Diário de bordo: Angra dos Reis

Recentemente viajei ao Rio para matar saudades de alguém que há muito não via. Além da acolhida sempre cercada de carinho, risadas e boas conversas, pude dar uma esticadinha em mais dois lugares que, a partir deste post, compartilho minhas impressões: primeiro Angra, na parte sul do litoral fluminense, e na sequência, Petrópolis, na região serrana.

Não se engane. Sem informação e com pouco tempo para gastar, nécas de encontrar uma cidade como aquela descrita nas propagandas, novelas e afins. Angra, assim como sua capital, é repleta de ocupações irregulares em suas encostas, o que pode gerar um certo sentimento de frustração no turista de primeira viagem. Aliás, não é de se estranhar que, assim como ocorreu neste ano com suas vizinhas, ela é que tenha sofrido os percalços do excesso de chuvas e da irresponsabilidade de seus gestores públicos no ano passado, quando outra série de deslizamentos afetou a região. Ao descer a serra não é incomum avistar placas alertando sobre áreas de risco, assim como homens trabalhando, justamente, na conteção de encostas já afetadas ou naquelas que podem vir a causar problemas no futuro.

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Estrada Rio-Angra Estrada Rio-Angra [2] Estrada Rio-Angra [3]

À esquerda, vista de parte do (belo) trajeto entre Rio e Angra; na sequência, trabalho de contenção de encostas realizado ao longo de toda a estrada; e, finalmente, as tais ocupações de risco: infelizmente, boa parte da cidade -incluido aqui centro e periferia- sofre com o mal que, além de comprometer sua estética de cidade turística, pode voltar a causar mais (e maiores) problemas à sua população. (Fotos: CWDB)

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A área central é pequena, movimentada, extremamente quente nesta época do ano -por isto, não se esqueça (mesmo) nem da água, nem do protetor solar- e possui atrativos históricos interessantes, alguns dos quais em processo de revitalização. A sensação de segurança, entretanto, deixa um pouco a desejar, devido a presença de alguns indivíduos aparentemente sem ocupação perambulando pelas ruas; apesar de exigir um pouco mais de atenção do turista, nada que atrapalhe demais o passeio.

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Centro Histórico - Igrejinha [1] Centro Histórico - Igrejinha [2] Centro Histórico

A cidade possui um centro histórico aconchegante que, se revitalizado inteiramente, pode agradar também aqueles turistas que não pensam apenas em se divertir nas praias e pousadas da região. (Fotos: CWDB)

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De qualquer forma, não desaconselho a descida; pelo contrário. No entanto, como disse, informações e tempo disponíveis são fundamentais para aproveitar melhor a estada, seja ela curta ou de maior duração. Caso vá de ônibus, uma opção é a Viação Costa Verde. O atendimento nos guichês é moroso, mas os carros são novos e confortáveis. No entanto, atente-se: ao contrário do que nos disseram na ocasião, não acredite que em menos de 2h você estará na cidade. Nós, por exemplo, demoramos cerca de 3h na estrada -com direito a uma parada oficial no meio do caminho-, suavizadas, entretanto, pela vista que, aliás, é um bom aperitivo do que você irá encontrar, principalmente, nos arredores de Angra; ou seja, não esqueça da câmera e, por favor, não escolha as poltronas da direita ou, acredite, o arrependimento vai lhe bater a porta.

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 Docas [1]     Docas [2]

 Centro Histórico - Revitalização [1]     Centro Histórico - Revitalização [2]

Nas docas [fotos 1 e 2] é possível encontrar bares agradáveis com vista para toda a extensão da baía, além de um útil e confortável centro de informações turísticas; para quem for à cidade de ônibus, a rodoviária também dispõem de seu próprio guichê de informações. Um pouco mais adiante [fotos 3 e 4], encontra-se a parte que está sendo revitalizada do centro histórico. Ainda existem vários pontos comerciais vazios, mas acredito que isto seja logo resolvido. (Fotos: CWDB)

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“Finalmentes“

Apesar da experiência relâmpago e da atitude de madrasta da Oi Velox -que nos privou do acesso a informações que poderiam ter tornado nosso passeio muito mais proveitoso e com bem menos contratempos-, creio que não tarde para que retornemos à região. E isto por, pelo menos, dois motivos: primeiro, pelo passeio de escuna que perdemos para Ilha Grande, aparentemente fora de série; segundo, para aumentar mais a fila e embarcarmos naquele ônibus lotado de mochileiros e surfistas, gringos e nativos, que, pacientemente, os aguardava próximo às docas, prestes a levá-los à Paraty, terra da FLIP; motivos que, vocês hão de convir, bastam não só para uma nova descida, mas também para um novo post.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

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Informações úteis:

TurisAngra: portal de informações turísticas sobre a cidade (como chegar, roteiros turísticos, mapas, galeria de fotos). Não embarque sem antes consultá-lo. Experiência própria. [Acesse]

Guia do Turista: portal de informações turísticas sobre a cidade. [Acesse]

Ilha Grande: portal de informações turísticas sobre a ilha. [Acesse]

Terminal rodoviário Novo Rio (RJ): consulta, compra de passagens e informações sobre o local. [Acesse]

Viação Costa Verde: consulta e compra de passagens. [Acesse]

Terminal rodoviário de Angra dos Reis: informações sobre o local. [Acesse]

sábado, 1 de janeiro de 2011

Passagem do Ano

“O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

Carlos Drummond de Andrade (Foto: Divulgação)

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas o amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre pela boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-repitícia.

Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo

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