sábado, 24 de julho de 2010

Sede de Sangue, de Park Chan-Wook, estreia no Cine Com-Tour

Estreou ontem, dia 23, no Cine Com-Tour, Sede de Sangue (2009), último filme do sul-coreano Park Chan-Wook, diretor da aclamada Trilogia da Vingança, conjunto vencedor de importantes prêmios, dentre os quais o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes, em 2004, por Oldboy.

 

A Trilogia da Vingança, do sul-coreano Park Chan-Wook, é composta por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005). (Fotos: Divulgação)

Sede de Sangue

Sang-Hyun, padre católico, correto e idealista, se oferece para participar, como cobaia, do desenvolvimento de uma vacina para a cura de um vírus mortal. Inoculado em seu corpo, não demora muito para que os sintomas apareçam, ele enfraqueça e morra em seguida -assim como todos os demais voluntários. Entretanto, segundos após sua morte, algo estranho acontece e ele retorna à vida.

Por ser padre, ter sido o único “sobrevivente” do processo e, principalmente, por ter sido trazido de volta à vida, assim que sai do confinamento, passa a ser visto como uma espécie de santo milagreiro. Porém, ao contrário do que aconteceria aqui no Ocidente -principalmente, num país católico como o nosso-, a situação não chega a fugir do controle e ele continua tendo uma vida relativamente tranquila como pároco e voluntário num hospital. Isto, é claro, até ser abordado por uma mãe em desespero que, ciente do episódio, suplica sua interceção junto ao filho com câncer.

Ao ser atendido, entretanto, o paciente percebe tratar-se de um velho amigo de infância e, considerando que, de fato, tem uma melhora súbita -independente desta ter sido ou não fruto das orações-, o padre passa a frequentar sua casa, repartir lembranças, amigos e, mais tarde, sua própria esposa. Fato, aliás, que tem início no exato momento em que começam a pipocar os primeiros sintomas de que algo de muito estranho ocorrera assim que recebeu o sangue desconhecido -que, aliás, mais tarde entendeu não ter sido apenas o responsável por trazê-lo de volta à vida, mas também por transformá-lo… num vampiro.

Apesar do inusitado da situação, o mais interessante a partir daí, é justamente a reviravolta que ocorre na vida de todos ao seu redor, mas acima de tudo -como já era esperado-, em sua própria vida e na da amante. Primeiro, pela ampliação do conflito interno já exercido pelo sacerdócio e pelo celibato e por sua nova condição animalesca, instintiva e sobre-humana, em que os desejos -antes, suficientemente contidos- passam a aflorar como jamais o fizeram. Mais tarde, pelo que torna sua amante, que por não compartilhar de suas crenças, toma um rumo que vai exigir ainda mais de sua fé e de suas estruturas moral e psicológica, já tão abaladas.

Apesar do início um pouco lento, principalmente para quem não está habituado a esse tipo de filme, o diretor consegue atualizar o gênero de forma verossímel -até onde isto é possível, obviamente-, mas, principalmente, sem cometer o despautério de propor vampiros vegetarianos e que brilham à luz do sol. O final, clássico, porém permeado de bom humor e criatividade -uma constante ao longo do filme, apesar do (supostamente) desmentido do trailer-, honra a tradição vampiresca e faz deste mais um ótimo filme do diretor sul-coreano. Não deixe de assisti-lo.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

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Sede de Sangue (Thirst, Coreia do Sul, terror, 133 min, 2009). Diretor: Park Chan-Wook. Elenco: Kang-ho Song, Mercedes Cabral, Ok-bin Kim, Hae-sook Kim, Ha-kyun Shin, In-hwan Park. Onde: Cine Com-Tour. Av. Tiradentes, 1241. Quando: 23-29/07 com sessões às 16h e às 20h30. Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Maiores informações: 43.3347.8639 (das 14h às 18h).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Terminado o I Encontro Paranaense de Composição Musical

Terminou ontem o I Encontro Paranaense de Composição Musical, evento pararelo ao 30º Festival de Música de Londrina. O evento discutiu o panorama atual e futuro da composição musical contemporânea.

Ocorrendo desde segunda-feira, dia 19, no auditório da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina), o encontro inaugurou um espaço para a discussão do panorama atual da composição paranaense e também dos rumos e tendências da criação musical contemporânea. Nesta primeira edição, que teve seu desfecho ontem no Teatro Zaqueu de Melo, o encontro contou com a presença de cinco compositores paranaenses de larga experiência na área: Arrigo Barnabé, Chico Mello, Rogério Krieger, Harry Crowl e Mário Loureiro.

Ontem, no Zaqueu, o objetivo foi apresentar parte da produção desses autores -raramente acessíveis, em sua maioria-, a um público ávido por novidades -e, em boa parte, envolvido em cursos e oficinas do festival-, que sim, gostaria de ver, no palco, o resultado prático das ideias debatidas pelos compositores durante os três dias do evento. Apesar da demora excessiva para o início por conta de uma avaria no piano, o recital teve grandes momentos. Parte do resultado pode ser visto abaixo com a apresentação de duas das obras executadas na ocasião: “Improviso”, de Arrigo Barnabé, e “Marcha Acerba”, de Henrique de Curitiba, paranaense falecido em 2008 e irmão do fundador do festival, Norton Morozowicz.

“Improviso”, composição de Arrigo Barnabé executada pelo próprio, ao piano, e por Paulo Braga, ao teclado. Por mais que eu tentasse não mexer a câmera, foi impossível não tremer a imagem. (Vídeo: CWDB)

Abaixo, a transcrição do programa na exata sequência das apresentações: 

Mário Loureiro

Mutações (Camilo Carrara, violão)

Aestus (Camilo Carrara, violão; Fernando Kozu, violão; Ângela Ferrari, violoncelo)

 

Chico Mello

Das Árvores (Paulo Braga, piano; André Erlich, clarinete; Gilberto Gianelli, trombone; Rodrigo Capistrano, saxofone; Waldir Bertiplagia, contrabaixo; Marcelo Casagrande, percussão)

 

Mário Loureiro

Choro (Ana Paula Micheletti, piano)

Doces (Robson Porelli, piano; Naija Santiago, voz)

 

Arrigo Barnabé

Fantasia (Paulo Braga e Karin Fernandes, piano a 4 mãos)

Improviso (Arrigo Barnabé, piano; Paulo Braga, teclado)

 

Henrique de Curitiba

Marcha Acerba (Nadia Belneeva, piano; Nailson Simões, trompete)

 

“Marcha Acerba”, composição de Henrique de Curitiba executada por Nadia Belneeva, ao piano, e Nailson Simões, no trompete. (Vídeo: CWDB)

Para quem ainda não assistiu a nenhuma das apresentações, ainda há tempo. Uma dica interessante -e que muito provavelmente vai agradar até quem não está habituado à música de concerto-, é a apresentação da cantata profana Carmina Burana, de Carl Orff (1895-1982) pela Orquestra Sinfônica e pelos Solistas e Coro do Festival que, na ocasião, estarão sob a regência do maestro japonês Daisuke Soga. Assim como na abertura, o concerto de encerramento do festival poderá ser visto em duas ocasiões: no dia 23, sexta-feira, e no dia 24, sábado. Ambas ocorrerão no Teatro Ouro Verde, às 20h30, com ingressos a R$ 15 (inteira) e a R$ 7,50 (meia).

Bom concerto e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Arrigo canta Lupicínio

Neste domingo, 18, o 30º Festival de Música de Londrina apresenta uma de suas atrações mais esperadas: Arrigo Barnabé com o show “Caixa de Ódio - o universo de Lupicínio Rodrigues”. Para quem ainda não conhece Lupicínio ou conhece pouco de sua obra, trago um especial sobre o compositor gaúcho produzido pelo canal Globonews.

No Brasil existem muitos grandes compositores que mesmo alguém sem maiores preconceitos -pelo menos no tocante à boa música- pode até vir a conhecer, mas por esta ou aquela razão, acaba não conseguindo ligá-los tão facilmente às suas composições. Aliás, quando consegue. Eu, por exemplo, não fujo (totalmente) à regra. Com exceção ao Cartola, de quem fui atrás recentemente, os demais artistas que menciono neste post, são frutos de audições esporádicas compartilhadas com meu pai em vinis antigos ou de programas de rádio ou televisão recordando antigos carnavais. Se a gente perde com isto? Claro! Ou você acredita que nomes como Noel Rosa, Pixinguinha, Larmartine Babo, Herivelto Martins, Lupicínio Rodrigues e outros tantos que não me vêm agora à memória, resistiram ao tempo por mera nostalgia?

 

Lupicínio Rodrigues (Foto: Reprodução) e Arrigo Barnabé (Foto: Fernanda Serra Azul)

Bom, na tentativa de remediar este mal -ou ao menos, parte dele-, compartilho com vocês um especial sobre Lupicínio Rodrigues realizado pelo programa Arquivo N, da Globonews, em que o compositor gaúcho apresenta suas principais canções e recorda com bom humor e ironia, os episódios que lhe serviram de inspiração para as composições. Além do próprio Lupicínio, também interpretam suas canções Elza Soares, Elis Regina, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Paulinho da Viola.

No mais, aproveito para lembrar que neste domingo, dia 18, o bom gremista -autor, inclusive, do hino ao clube gaúcho- será objeto de tributo de outro grande compositor brasileiro negligenciado: Arrigo Barnabé. Arrigo, que há muito não se apresenta por aqui, vem à cidade à convite do 30º Festival de Música de Londrina com o seu “Caixa de Ódio: o universo de Lupicínio Rodrigues” [veja crítica], show em que se rende à angústia, ao sarcasmo, mas principalmente ao talento deste grande compositor gaúcho. No show, que acontece no Bar Valentino, o londrinense é acompanhado de Paulo Braga ao piano e de Sérgio Espíndola ao violão. Não percam.

Bom festival!

[ChuckWilsonDB]

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Festival de Música de Londrina apresenta Arrigo Barnabé com o show “Caixa de Ódio: o universo de Lupicínio Rodrigues”. Onde: Bar Valentino. Av. Faria Lima, 486. Quando: 18/07 às 22h30. Quanto: R$ 15. Maiores informações: www.fml.com.br.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Festival de Música de Londrina

Começa hoje, oficialmente, o 30º Festival de Música de Londrina (FML). No concerto de hoje e de amanhã, no Cine Teatro Ouro Verde, a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (OSUEL) executa peças de Gershwin e Villa-Lobos sob a regência de Norton Morozowicz e da maestrina venezuelana Maria Guinand.

O Festival de Música de Londrina -que neste ano comemora 30 anos de história- começa oficialmente hoje, dia 12, e vai até o dia 24 de julho. E como de costume, ele foi estruturado em duas frentes: uma pedagógica e outra artística. A primeira, que tem como objetivo propor alternativas e novos direcionamentos ao saber e à prática musicais, contará com 55 cursos divididos em módulos como os de práticas de conjunto (orquestra e banda sinfônicas, big band, música camerística, ópera e coral), regência, instrumentos e voz, estruturação musical, música popular, além de atividades pedagógicas voltadas ao público infantil e à terceira idade. A segunda, artística, contará com cerca de 80 concertos que serão distribuídos em vários pontos da cidade e, assim como no FILO, que teve suas apresentações estendidas a cidades como Brasília e São Paulo, o FML também programou incursões em outras praças, porém regionais: Maringá, Apucarana, Rolândia, Porecatu e Sabáudia são as cidades que também constam da grade de progamação do festival.

Principais atrações

Em grande parte retirada da grade pedagógica do evento, merecem destaque as presenças da ucraniana Julija Botchkovskaia, pianista do Conservatório de Moscou, docente da Hochschule für Musik und Theater de Hamburg (Alemanha) e integrante do ról da Steinway Artists desde 2007; da Ensemble New Hope Opera da Alemanha; dos norte-americanos do Vento Trio, grupo especialista em compositores das Américas, composto por flauta, fagote e clarinete; das pianistas coreanas Jaeeum Lee e Hy Yon Park; e também do maestro japonês Daisuke Soga, em sua quarta passagem por Londrina.

  

A pianista ucraniana Julija Botchkovskaia, os alemães da Ensemble New Hope Opera e o maestro japonês Daisuke Soga. (Fotos: Reprodução)

Quanto aos brasileiros, destaque para o tradicional concerto da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP); para o duo pianístico composto por Fábio e Gisele Witkowski; o exímio trompetista paraibano Nailson Simões; a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá, uma espécie de guardiã dos ritmos tradicionais do nordeste brasileiro que, em passagem pelos EUA, foi definida pelo jornal The New York Times -com certo entusiasmo, talvez- como “diva da música negra”; a Orquestra de Câmara Solistas de Londrina (OCSL), vencedora do Prêmio TIM de Música Brasileira nas categorias “Melhor CD Erudito” e “Melhor Projeto Visual” em 2003; além, é claro, do grande Arrigo Barnabé, compositor londrinense radicado em São Paulo desde os anos 1970 e que traz para Londrina o show “Caixa de Ódio”, uma homenagem que ele faz a outro grande compositor brasileiro, o gaúcho Lupicínio Rodrigues.

A Orquestra de Câmara Solistas de Londrina (OCSL), o trompetista Nailson Simões, os pianistas brasileiros radicados nos EUA, Gisele e Fábio Witkowski e a cirandeira Lia de Itamaracá. (Fotos: Reprodução)

Arrigo Barnabé e a Vanguarda Paulista

Para os desavisados que desconhecem Arrigo e sua obra, ele foi junto a Itamar Assumpção (1949-2003), um dos principais nomes do que se convencionou chamar de Vanguarda Paulista (ou paulistana para alguns), um “movimento” ocorrido na década de 1980 na capital paulista que subverteu os “meandros” da música popular brasileira -já que obteve maior reconhecimento de crítica que de público-, dado o viés experimental das músicas, do caráter urbano e falado das letras e também do aspecto independente dos trabalhos -muito comum hoje em dia no meio musical (mas não naquela época) pelo advento e popularização das mídias digitais e também do alcance global da internet.

Arrigo Barnabé, autor do clássico Clara Crocodilo (1980), de Tubarões Voadores (1984) e da Missa in Memoriam Itamar Assumpção (2007), em homenagem a outro ícone da Vanguarda Paulista e grande amigo do compositor. (Foto: Fernanda Serra Azul)

Concerto de abertura

Neste ano o concerto de abertura -que acontece logo mais no Cine Teatro Ouro Verde- será em dose dupla e terá três peças no programa: o Hino à Londrina, cantando à capella por Fafá de Belém -que poucos sabem, iniciou sua carreira profissional com um show na cidade na década de 1970-; o Concerto para Piano em Fá, de George Gershwin, tendo como solista o pianista -e também diretor artístico do festival- Marco Antônio de Almeida; e os Choros nº 10 para Orquestra e Coro, de Heitor Villa-Lobos. A regência da OSUEL ficará a cargo de seu ex-regente titular e um dos fundadores do festival, Norton Morozowicz, e os coros ficarão sob a batuta da maestrina venezuelana Maria Guinand. O concerto, que acontece hoje e amanhã no tradicional Ouro Verde, terá início às 20h30 e os ingressos podem ser obtidos na bilheteria do teatro a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

Bom festival!

[ChuckWilsonDB]

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Festival de Música de Londrina. Onde: Teatro Ouro Verde, Teatro Zaqueu de Melo e espaços alternativos distribuidos por toda a cidade. Quando: de 10 a 25 de julho. Quanto: R$ 20 (show com Fafá de Belém), R$ 15 (concerto de abertura e show com Arrigo Barnabé) e R$ 10 (demais apresentações). Maiores informações: www.fml.com.br.