quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O bom e velho Iggy and The Stooges

Quando foi anunciado o Claro que é Rock em 2005, eu já havia comprado o ingresso para o Tim Festival que, na ocasião, traria The Strokes, Kings of Leon, The Arcade Fire, M.I.A. e Mundo Livre S/A para o Anhembi. Como eu iria com um grupo de amigos e o ingresso não era dos mais baratos, não foi possível encarar os dois festivais de uma vez - ainda mais porque a viagem ficaria muito mais cara indo sozinho. Resultado: não pude invadir o palco dos Stooges, reclamar do som no show do Sonic Youth, socar (no melhor dos sentidos) a bolha transparente do Wayne Coyne, nem curtir o "industrial" do Trent Reznor. Ah... E ainda tinha a Nação Zumbi e o Fantomas, do nosso amigo Mike Patton - que estranhamente também estará em São Paulo no mesmo dia 07 de novembro, só que com o Faith no More.


Wayne Coyne, do Flaming Lips, no Claro que é Rock 2005.
[Crédito: Marcos Hermes at whiplash.net]

Mas depois de muito falatório e uma demora preocupante para a definição do line-up do Planeta Terra deste ano, finalmente, os caras anunciaram as duas atrações que, a meu ver, já valem o festival: Iggy and the Stooges e Sonic Youth. Uma espécie de redenção pessoal, já que eu perdi a oportunidade de vê-los, e também um muito bem vindo revival do que foi o Claro que é Rock em 2005. Exagero? Não creio. Sacanagem com a memória do Tim 2005? Afinal, o show do Arcade Fire foi sensacional. Talvez. Mas e daí?


Arcade Fire no Tim Festival 2005. Anhembi, São Paulo.
[Crédito: "flaviadurante" at Flickr]

Bom, mas apesar da importância do Sonic Youth para o rock dito alternativo, e mesmo para mim como fã, peço licença para me focar apenas nos Stooges desta vez; estes, sem dúvida alguma, responsáveis por algumas das histórias mais interessantes e, por que não?, tragicômicas, não só da chamada Blank Generation, como do próprio rock´n´roll. Como, por exemplo, o episódio em que Iggy se encontra com Wayne Kramer após o término da banda do ex-líder do MC5. Época em que este estava brigado com os demais ex-integrantes e que, no sentido de completar o vazio dessa perda, da vida no MC5, acabou por se tornar bandido e traficante.


Sonic Youth

Por conta de uma antiga dívida que Iggy contraiu quando os dois começaram a traficar juntos - pouca coisa, algo como US$ 200 aproximadamente -, Kramer o encontrou acompanhado de um capanga (ele tinha receio que Scoth Asheton interferisse) no hotel onde os Stooges estavam hospedados. Apesar de ter refrescado a memória do Iguana quanto à dívida, o "combinado" seria que a grana de Iggy seria trocada por heroína. No entanto, ao entregar o dinheiro, Kramer disse algo mais ou menos assim: "Estamos quites, agora!" O quê? Quer dizer que não tem droga?, teria perguntado um Iggy atônito. "Não", teria sido a resposta. Iggy então começa a chorar, quando o capanga de Kramer, comovido, o abraça e diz algo como: "Calma irmão, são apenas drogas. Não fica assim."


Iggy and The Stooges com James Williamson e Scott Thurston.

Ou então outros episódios antológicos como o show que antecedeu a gravação do Metallic K.O. no Michigan Palace, último show da carreira da banda até então. Dias antes, Iggy entraria em conflito com um grupo de motoqueiros durante uma apresentação e saltaria do palco vestido de bailarina em direção ao cara que mais o importunava na platéia. Acabou surrado - o que em qualquer outro caso, teria acabado imediatamente com o show. Mas não, não com os Stooges.

Recuperado, segundo o próprio Iggy Pop em depoimento a Legs McNeill e Gillian McCain no livro "Mate-me Por Favor" (ed. L&PM), ele volta ao palco e, junto com a banda, tocam uma versão gigantesca de "Louie, Louie" (segundo Lester Bangs, de mais de 40 minutos), alternando os versos originais com outros improvisados e repletos de xingamentos direcionados aos caras que, além de retribuirem a gentileza, somaram à ela uma saraivada de garrafas e outros objetos que foram jogados ao palco. Ah... É válido ressaltar que na versão de Bangs em seu livro "Reações Psicóticas" (Psychotic Reactions and Carburetor Dung), da ed. Conrad, a ordem dos fatores não é exatamente a mesma.

Mas enfim, foi somente com a vinda da polícia que o show, finalmente, acabou. Porém, não, não é o fim da história. Ainda não satisfeito, o Iguana vai à uma estação de rádio local (não exatamente na sequência) e faz uma nova provocação aos motoqueiros que, segundo Bangs, é respondida por meio de um telefonema: caso o tal show do Michigan Palace ocorresse, os Stooges seriam mortos pela gangue. Resumindo, o show acabou acontecendo e uma nova batalha foi travada, já que a banda foi acompanhada desta vez de sua própria gangue de motoqueiros que ali mesmo do palco, rivalizou com a platéia durante todo o show. E não, ninguém morreu.


Iggy Pop: Quem precisa de bolha, Wayne?!

Agora... Engana-se quem pensa que eles nunca mais teriam problemas com motoqueiros. Por alguma razão, Scott Asheton acabou contraindo uma dívida que os obrigou a transformar a Fun House numa verdadeira fortaleza, com tapumes em portas e janelas (que eram devidamente arrancados e recolocados à medida que entravam e saiam da casa) e recheado de armas como medida de segurança - que, aliás, acabou se mostrando desnecessária, já que eles nunca apareceram para cobrá-la. Por conta disto, e já que o prédio seria demolido pelo município, não perderam a viagem. Descarregaram todas elas na casa mesmo, adiantando parte do serviço.

É, realmente o que os caras mais têm são histórias. E das boas. Histórias estas que podem ser conferidas nesses dois livros citados a pouco: "Mate-me Por Favor" e "Reações Psicóticas". Ambos, aliás, podem ser encontrados facilmente em qualquer grande livraria como Saraiva, Cultura ou FNAC. Ah, detalhe: o "Mate-me Por Favor" foi desmembrado em dois volumes pela L&PM e transformado numa versão pocket, porém sem prejuízo ao texto que ainda permanece integral.

Em suma, se a apresentação dos Stooges for como de costume, podemos esperar grandes momentos deste festival. E isto, independentemente, da baita falta que fará o grande Ron Asheton, falecido recentemente e substituído pelo ex-guitarrista dos Stooges, James Williamson, co-autor de Raw Power juntamente com Iggy Pop. Aliás, justamente por isso, é que poderemos rever a íntegra desse grande álbum. Uma ironia, mas enfim...



Iggy and The Stooges no Claro que é Rock 2005. Chácara do Jockey, São Paulo.


[ChuckWilsonDroogieBoy]

6 comentários:

feduccini disse...

Ah agora apareceu o campo pra comments. Please Kill Me é um dos livros mais bacanas que eu já li, as histórias da funhouse são hilárias! Pensei que o Iggy não ia mais fazer show com o stooges depois da morte do ron, mas eis que eles não só voltaram como vêm pra cá! Vou perder o show, entretanto e infelizmente. Mas vai ser fantástico, ainda mais com Sonic Youth a tira-colo. E não acho que vc fez a escolha errada 3 anos atrás. Se eu na época conhecesse, teria ido ver o Arcade Fire também! Abraços!

ChuckWilsonDB disse...

fala, duccini! entaum... o please kill me, realmente, eh mto bom! eh um dos meus favoritos tb. eu tb pensei q o iggy naum viesse mais, mas por outro motivo: eu achei q ele morreria antes! rs bom... qto a minha escolha, eu soh naum me arrependo msm por causa do arcade e da volta dos stooges e do sonic juntos, pq senaum... :)

Délia disse...

Li seu blog e fiquei pensando com meus botões... quando vc vai lagar de ser jacu e prestar vestibular pra jornalismo, heim?

Angela disse...

Ow fidido, ri muito com as presepadas do Iggy, hahaha, adoro =)

silas disse...

Cara, muito louco o Iggy Pop! Curti bastante essas histórias. Só há duas perguntas que faço a mim mesmo, até hoje, a respeito de figuras como ele: 1. Quem é mais chapado e já deveria estar morto: o Iggy ou o Keith Richards? 2. E se o Iggy se apresentasse na Rússia, ou qualquer outro lugar gelado que fosse, faria o show do jeitinho de sempre (sem camisa e com jeans)? (risos)

Bom trabalho! Té mais!

ChuckWilsonDB disse...

jogo duro, hein? iggy ou richards?! se eles naum fossem taum mais velhos q a gnt eu apostaria q a gnt eh q iria primeiro. haha cara, tae uma coisa q eu nunca imaginei, mas confesso q seria estranho ver o iggy, digamos, vestido! rs

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