quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

De volta com o Starte: Grafite

Grafite, outro tema que eu sempre gostei. Aliás, algo relativamente comum desde a minha adolescência. Ou não? Bom… Na verdade, não. Antes tinha mais a ver com pixação mesmo. Só no finalzinho desse período, quando muitos já tinham migrado das ruas para as faculdades e escritórios é que o grafite -de forma bem tímida ainda- passou a dar as caras por aqui. Na época, ambos contravenções com direito a botas de spray customizadas pela polícia. Hoje, tema, inclusive, de programas sociais ligados à prefeitura. Pois é… Nada como um dia após o outro.

   

Da esquerda para a direita: trabalhos d’osgemeos, Nunca e Titi Freak. (Fotos: Divulgação)

Starte

Como (nem) todos sabem, este foi um grande ano para a street art em São Paulo. Ano em que, finalmente, ela passou a integrar o rol de convidados (e não de invasores) da tradicional Bienal paulistana e, vejam só, ano também em que conquistou sua própria mostra, a Bienal Internacional Graffiti Fine Art; mote, aliás, deste novo episódio do Starte que eu compartilho com vocês.

Realizada de setembro a outubro deste ano no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), a mostra contou com a presença de artistas brasileiros de peso como Binho Ribeiro, um dos curadores, Rui Amaral, osgemeos, Nina, Nunca, Titi Freak, Zezão, Speto, além de representantes das Américas, Europa, Ásia e Oceania. Neste episódio, vocês não vão apenas conferir o que rolou no evento, mas também conhecer um pouco mais dessa arte que deu seus primeiros passos (ainda que inconscientes) na Paris de 1968, tornou-se concreta na Nova Iorque de Warhol e Keith Haring e hoje, principalmente, tem São Paulo como um de seus maiores expoentes. Bom programa.

Starte com Bianca Ramoneda e Elisabete Pacheco: todas as terças às 23h30 na Globonews.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

De volta com o Starte: Momix

Como faz tempo que eu não posto nada, resolvi compartilhar algo simples pra mim e interessante pra vocês: alguns ótimos episódios do Starte que, principalmente, nos últimos meses, tem acertado em cheio na escolha dos temas. Na realidade, ainda estou em dúvida se serão quatro ou cinco episódios ao todo, mas posso adiantar que eles terão relação com a música, com as artes plásticas e cênicas e, muito provavelmente, com o cinema ou com o teatro, o que eu achar mais interessante na ocasião.

Nesta primeira postagem, apresento vocês ao Momix, uma companhia fundada em 1981 pelo coreógrafo norte-americano Moses Pendelton, que mescla dança de vanguarda, técnicas acrobáticas e de ilusionismo, além de surpreendentes efeitos visuais responsáveis por dar o tão famoso e esperado caráter surrealista às montagens.

Em sua quarta passagem pelo país, a companhia nos trouxe Botanica, espetáculo baseado numa das paixões de Pendelton. O Starte foi até à sede da cia., nos arredores (bucólicos) de Nova Iorque, para nos mostrar desde as origens, passando pelo processo criativo e pelas técnicas usadas na criação dos efeitos visuais, até os projetos ainda em gestação na cabeça do coreógrafo. No mais, não pensem vocês que o tema seja chato e, vejam só, não desistam sem ao menos conferir como esses caras são, de fato, no palco. Bom programa.

Starte com Bianca Ramoneda e Elisabete Pacheco: todas as terças às 23h30 na Globonews. Excepcionalmente neste episódio com entrevista de Jorge Pontual.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Crime Ferpeito

Dias atrás assisti um filme que, a princípio, não dei muita bola. Bom… A não ser pelo nome: Crime Ferpeito. Comédia que comecei a assistir para confirmar o suposto erro de grafia, mas que não tardou a me prender até os créditos finais desta engraçada co-produção Espanha/Itália.

Na primeira cena, um cenário branco e duas portas ladeadas, porém distantes entre si. No meio, uma arara de roupas repleta de ternos. De repente, duas pessoas adentram o cenário minimalista: cliente e vendedor. Este, numa tentativa patética de vender a todo custo um produto único que o cliente não deseja; aquele, blasé e mal educado, não só tentando se desvencilhar do assédio, como aproveitando a deixa para gerar um imenso desconforto em nosso incauto vendedor. Sejamos sinceros, o objetivo maior de oito entre dez treinamentos de vendas -sim, era disto que tratava a cena: treinar, mas não sem antes constranger quem aceitou (ou foi obrigado a) participar da dinâmica, não raro, capitaneada por um orientador fascista. Sem dúvida, um mote interessante para uma boa comédia de humor negro.

O filme

Rafael (Guillermo Toledo) é um vendedor nato. Elegante, bom-papo, auto-estima jorrando dos poros, cercado de bajuladores por todos os lados. Supostamente detesta o lugar comum, a falta de metas na vida e a mediocridade. Porém, vejam só, seu objetivo de vida é tornar-se gerente de departamento da loja onde nasceu -sim, nasceu- e praticamente reside -já que não raras vezes tem suas noites tomadas por uma espécie de fantasia luxuosa e luxuriante com suas vendedoras, regada a champagne, jantar elegante, roupas caras e alcova indevidamente apropriados; situação acobertada, é claro, pelo segurança a quem paga um cala-boca e o tem como fã.

   

Mas quando tudo ia bem na corrida pela gerência, uma decepção. Nosso Don Juan acaba perdendo a disputa para o seu arquirrival, Don Antonio (Luiz Varela); este, funcionário antigo, metódico, nada elegante, porém outro líder em vendas e, por isto mesmo, candidato junto a ele ao posto de gerente. Após uma venda frustrada pelo retorno de um cheque graúdo -venda firmada com o supra-sumo do galanteio barato nos últimos minutos do fechamento do caixa-, o posto que até então já estava definido, muda de dono. Logo na sequência, ao destratar a cliente na hora da devolução da mercadoria, vencedor e derrotado se engalfinham numa briga de bastidores que, acidentalmente, acaba pior para o recém empossado gerente. Resultado: de um lado, morte; do outro, pânico -obviamente.

E agora? O que fazer com o corpo? Será que alguém viu o que aconteceu? Sim, Lourdes (Mónica Cervera), a mais feia de todas -a única delas, por sinal; que a partir daí passa a ajudá-lo, guarda segredo, mas cobra caro pelo favor: primeiro como amante; depois como marido e depois, pior, como escravo de seus caprichos -os quais mudam drasticamente não só a vida do protagonista e do próprio dia-a-dia na empresa, como também faz retornar do limbo seu recém embarcado rival para, até ele, tentar convencê-lo a tomar uma atitude mais drástica contra a megera. Em suma, uma crítica bem humorada acerca do consumismo, da questão das aparências e, para quem é do ramo, dos bastidores da vida entre balcões. Ótima opção para um sábado a noite frustrado ou para um domingo no horário do Fantástico. Se é que vocês ainda assistem.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

__________________  
Crime Ferpeito (El Crimen Ferpecto, Espanha/Itália, comédia, 98min, 2004). Diretor: Álex de la Iglesia. Elenco: Guillermo Toledo, Monica Cervera, Luis Varela, Tejada Enrique Villen, Fernando Tejero, Kira Miro.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Quinteto Metais do Paraná apresenta Rex Richardson

No domingo último, dia de pleito, enquanto muitos se dirigiam às urnas, como era de se esperar, outros (nem tão poucos assim), tomavam um rumo diferente, um pouco mais longo, porém, certamente, mais agradável. E isto, não porque a política em si seja algo sem maiores atrativos -mesmo (ou principalmente) no Brasil-, mas simplesmente porque acordar, mesmo que num domingo atípico de primavera, digamos, outonal, e poder assistir a um grupo de câmara numa formação que lhe é familiar -e melhor ainda, não dispendendo centavo-, é realmente muito mais interessante. Este, aliás, é o caso do projeto Osuel Câmara que, no segundo concerto da temporada, trouxe ao palco do Teatro Ouro Verde, o Quinteto Metais do Paraná e, em sua primeira passagem pelo Brasil, o trompetista norte-americano Rex Richardson.

 

Quinteto Metais do Paraná e o trompetista norte-americano Rex Richardson em sua primeira passagem pelo Brasil. O trompetista é artista residente do London’s Trinity College of Music (UK), professor de trompete e jazz na Virginia Commonwealth University (EUA) e também pertencente ao ról de artistas da Yamaha. (Fotos: Divulgação)

Rex Richardson

Considerado personalidade do ano pela The Brass Herald, revista especializada no gênero, e transitando com facilidade entre a música camerística e o improviso do jazz, Richardson já tocou com grandes nomes do soul e do jazz norte-americanos como Benny Carter, Ray Charles, Dave Holland e Aretha Franklin. Além disto, já excursionou como integrante do quinteto do lendário Joe Henderson, falecido em 2001, e do Chicago Jazz Ensemble, de William Russo. Pela primeira vez no Brasil, o trompetista se apresentou em Londrina e participou da terceira edição do Encontro Internacional de Trompetistas, evento realizado na cidade de Tatuí, em São Paulo, com a organização da ABT (Associação Brasileira de Trompetistas).

Quinteto Metais do Paraná

Formado por Cícero Cordão (trompete), Arthur Fernandes (trompete), Gilberto de Queiroz (trombone) Marcelo das Virgens (trompa) e Guilherme Efron (trombone baixo), o quinteto foi criado em 1993, ano em que Cícero passou a integrar a OSUEL (Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina), onde hoje atua como primeiro trompetista. Deste então, o quinteto, que já dividiu o palco com importantes nomes como Charles Schlueter, ex-primeiro trompetista da Boston Symphony Orchestra (EUA), Frederick Mills, ex-integrante do The Canadian Brass falecido em 1996, e Nailson Simões, ex-membro do Quinteto Brassil de Metais, vem desenvolvendo um trabalho que transita do erudito ao popular, valorizando, principalmente, o repertório original voltado para esse tipo de formação, além de projetos de cunho didático. Apesar de tratar-se de um quinteto, não é incomum vê-lo com seis membros em sua formação. No caso, o coringa atende pelo nome de Vitor Gorni, talentoso baterista que, infelizmente, não se fez presente na ocasião.

Da esquerda para a direita: Arthur Fernandes (trompete), Marcelo das Virgens (trompa), Gilberto de Queiroz (trombone), Guilherme Efron (trombone baixo), Vitor Gorni (bateria) e Cícero Cordão (trompete). (Foto: Divulgação)

Concerto

Como disse há pouco, nem o domingo eleitoral, nublado e friorento, foi capaz de impedir que uma parte significativa dos assentos do teatro fossem preenchidos, fato que chamou a atenção, inclusive, do próprio quinteto. Londrina, aliás, possui tradição nesse tipo de espetáculo, matinal e domingueiro, principalmente, por conta do saudoso Concertos Matinais, projeto idealizado pela professora Magali Kleber que além de dar palco a músicos londrinenses e de outras regiões do país sempre nas manhãs de domingo, dedicava-se a práticas de caráter educativo e de formação de público, assim como o próprio quinteto tem se dedicado.

Programa

O programa deste concerto foi dividido em duas partes: a primeira, erudita, e a segunda, popular. Na primeira, foram executadas obras do norte-americano Eric Ewazen, professor-doutor da reputada Juilliard School em Nova Iorque (EUA), do franco-suíço Arthur Honneger, do austríaco Joseph Haydn, um dos principais compositores do período clássico, provedor das bases para o classicismo de Mozart, Beethoven e Schubert, e, finalmente, do italiano Giuseppe Tartini, compositor barroco e maior violinista do século XVIII. Na segunda, o erudito deu lugar a bossa nova de Tom Jobim e ao jazz de Benny Golson e Duke Ellington. Tanto a primeira como a segunda parte do concerto, foram especialmente arranjadas para quinteto de metais. Quatro delas, aliás, apresentadas na sequência:

Intrada, de Artur Honegger (1892-1955) | (Vídeo: CWDB)

.

Concerto em Eb para trompete (Allegro; 1º Mov.), de Joseph Haydn (1732-1809) | (Vídeo: CWDB)

.

Programa completo:

.

Eric EWAZEN (1954 –) Frost Fire

Bright and fast | Gentle and mysterious | Tense and dramatic

Arthur HONNEGER (1892-1955) Intrada

Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto em Eb para trompete [arr. Fred Mills]

Allegro | Andante | Allegro

Giuseppe TARTINI (1692-1770) Concerto para trompete picollo [arr. Fred Mills]

Allegro | Andante | Allegro

*

Antônio Carlos Jobim (1927-1994) Bossa Nova [arr. Maestro Duda]

Garota de Ipanema | Wave

Benny Golson (1929 –) I remember Clifford [arr. Gilberto de Queiroz]

Duke Ellington (1899-1974) I Let a Song [arr. Gilberto de Queiroz]

. 

Concerto em Eb para trompete (Allegro; 3º Mov.), de Joseph Haydn (1732-1809) | (Vídeo: CWDB)

.

A filmagem do bis, infelizmente, não ficou legal. A minha tentativa de usar o zoom da maquineta, aliada ao braço já moído pela posição incômoda, frustraram totalmente minhas expectativas antes mesmo do final da música. Também não me perguntem qual o seu nome, pois eu não sei. Entretanto, assim que souber, eu o disponibilizo nos comentários. (Vídeo: CWDB)

Público

Apesar de já possuírmos um público relativamente bem formado, como dito há pouco, percebi que a despeito da qualidade do concerto e dos instrumentistas, do acerto na escolha do programa e também da explicação carismática das obras executadas, fiquei com a impressão de que o público londrinense -ao menos, o presente na ocasião- ainda não está plenamente habituado ao tipo de formação. Digo isto, pois não notei o devido entusiasmo em alguns ótimos momentos da apresentação e também percebi que algumas pessoas deixaram a sala antes da hora. Entretanto, como até mesmo os integrantes do quinteto o fizeram, também me alegrei com a presença acima do esperado para um dia como aquele, de eleições, e como foi bem dito na ocasião, se no próximo concerto cada um dos presentes conseguir levar ao menos um convidado, já quase lotaríamos a parte inferior do Ouro Verde -que, diga-se de passagem, não é pequena. Mas é isso…

Vida longa ao projeto. Vida longa ao quinteto.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tirando o pó das estantes

Está acontecendo desde segunda, dia 13, a 29ª edição da Semana Literária Sesc Paraná. A mostra que vai até amanhã, dia 17, trouxe a Londrina autores como Ignácio de Loyola Brandão e Marina Colasanti. Mas… a coisa não para por aí. No próximo dia 21, a maratona recomeça com a Feira Literária de Londrina. Na agenda, Marcelo Rubens Paiva e Fausto Fawcet.

Com o tema Leitura e Cotidiano, a Semana Literária do Sesc está discutindo maneiras mais eficazes de aproximar o jovem do universo literário, numa tentativa de transformar a já tradicional (e enganosa) imagem de “experiência solene e morta da literatura”, como diria o escritor José Castello, em “algo vivo e arrebatador” -o que de fato, ela é.

Para a mostra, que vai até amanhã, dia 17/09, e que está sob a curadoria do próprio Castello, foram convidados escritores de expressão nacional como Ignácio de Loyola Brandão, Marina Colasanti e Miguel Sanches Neto; autores que têm conseguido preencher todos os espaços do salão de eventos do Sesc (F. Noronha) e que, tão logo consiga, devo compartilhar minhas impressões com vocês aqui no blog. Aliás, não deixando também de mencionar que no próximo dia 21, terça-feira, tem início outra maratona literária aqui na cidade: o Londrix - Festival Literário de Londrina.

Londrix - Festival Literário de Londrina

Mesmo vítima de uma substancial redução de orçamento, o Londrix deste ano promete uma programação enxuta, porém sem perda de qualidade. Para o evento, que vai até o dia 26, são aguardadas, dentre outras, as presenças de Marcelo Rubens Paiva, Fausto Fawcet e do dramaturgo Roberto Alvim. A campanha já está nas ruas: vários outdoors com poemetos de autores da casa como Mário Bortolotto, Maurício Arruda Mendonça, Marcos Losnak, Célia Musilli, Karen Debértolis e Márcio Américo foram espalhados pela cidade. Segundo Nelson Sato, “uma simpática iniciativa que coloca painéis publicitários a serviço da literatura”. Mas enfim, logo falarei mais a respeito.

Boas leituras e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mostra Internacional de Cinema na Cultura

Começou na última quarta-feira, dia 8, a Mostra Internacional de Cinema na Cultura, programa com apresentação e curadoria de Leon Cakoff e Renata de Almeida, que promete trazer para a TV aberta a mesma qualidade encontrada na programação de um dos mais longevos festivais de cinema do país.

Sírio, descendente de armênios e naturalizado brasileiro, o crítico Leon Cakoff é o criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, festival surgido em 1977 em comemoração aos 30 anos de fundação do MASP (Museu de Arte de São Paulo), e que até hoje figura como uma das principais mostras do gênero no país. No programa que irá ao ar todas as quartas e sextas-feiras, sempre às 22h, na TV Cultura, ele e sua esposa, a produtora Renata de Almeida, comentarão -sempre com a participação de um convidado- títulos que já fizeram parte da grade de programação do festival.

Dois dos filmes, infelizmente, já passaram: o ótimo A Vida dos Outros, drama do diretor alemão Florian H. von Donnersmarck, que mostra a vida de um casal de artistas mantido em estrita vigilância pela Stasi -a implacável polícia secreta da então Alemanha Oriental- por estarem supostamente envolvidos em atividades subversivas -o que vai acabar se mostrando equivocado e gerar uma interessante reviravolta na trama- e a comédia O Tigre e a Neve, do italiano Roberto Benigni.

A Vida dos Outros (Florian Henckel von Donnersmarck), vencedor do Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro, do BAFTA -prêmio da Academia Britânica de Artes da Televisão e do Cinema-, outros 59 prêmios e mais 21 indicações.

Veja o que ainda está programado para este mês:

A Noiva Síria, de Eran Riklis (nesta quarta, 15/09)

Um Beijo Roubado, de Wong Kar Wai (17/09)

Questão de Imagem, de Agnès Jaoui (22/09)

A Janela da Frente, de Ferzan Ozpetek (24/09)

A Menina Santa, de Lucrecia Martel (29/09)

Para quem curte cinema, duvido que encontre opção melhor -bom, ao menos, não na TV aberta.

Bom filme e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

__________________  
Mostra Internacional de Cinema na Cultura. Apresentação: Leon Cakoff e Renata Almeida. Onde: TV Cultura. Quando: quartas e sextas às 22h. Maiores informações: http://www.tvcultura.com.br/

domingo, 12 de setembro de 2010

Outra série que promete surpreender

Estreia hoje, às 23h, no The History Channel, Rituais Bizarros, uma série que pretende se aprofundar na cultura antropológica da história, explorando rituais que vão do canibalismo a práticas sexuais controversas.

 

Rituais Bizarros estreia hoje, às 23h, no The History Channel com reapresentações do episódio na segunda, dia 13/09, às 3h; na sexta, dia 17/09, às 22h30 e no sábado, dia 18, às 5h.

Na cola da série Tabu, do Natgeo, estreia hoje no The History Channel, Rituais Bizarros, uma série que pretende se aprofundar na cultura antropológica da história, explorando rituais que, ao contrário do que muitos podem pensar, ainda hoje são praticados ao redor do mundo com os mais diferentes motivos e significados. A série vai revelar como esses rituais forjaram culturas, deram início a guerras e levaram impérios tanto ao seu ápice como à sua derrocada. Hoje, no primeiro episódio da série, o assunto é canibalismo. O programa vai analisar o que mudou na prática ao longo da história e o que pensam aqueles que ainda hoje o praticam. Para quem tem estômago forte.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

domingo, 1 de agosto de 2010

A intimidade do autor de A Origem das Espécies

Estreou na última sexta, dia 30, no Cine Com-Tour, Criação (Creation), filme que conta a história de Charles Darwin durante a reclusão que antecedeu o término e o lançamento do clássico A Origem das Espécies, livro que subverteu a maneira do homem enxergar a si próprio e que até hoje suscita as mais fervorosas polêmicas entre os que concordam e os que repudiam sua teoria.

Na viagem que o comandante Robert FitzRoy (1805-1865) fez à América do Sul a bordo de seu famoso HMS Beagle, uma ideia até que interessante surgiu em sua cabeça. Querendo provar que a única coisa que realmente diferia um nativo de um cidadão inglês era o fato daquele ter nascido num lugar que até Deus esquecera, ele fez uma troca que soaria, digamos, politicamente incorreta para os padrões atuais -ou não: crianças por quinquilharias. Pois é… Em troca das cobaias para a até que bem intencionada experiência de transformar nativos sul-americanos em “cristãos educados”, ele deu algumas bobageiras aos índios que, assombrados pelo inusitado da experiência, não pensaram duas vezes para aceitar o escambo.

Bom… Mas até que deu resultado. Os indiozinhos, de fato, aprenderam a se comportar como lordes -fato reconhecido inclusive pela própria realeza britânica-, corroborando assim a tese do comandante inglês. O engraçado, porém, foi que tão logo voltaram para compartilhar o que haviam aprendido com o restante da tribo, as duas primeiras coisas que fizeram foi, justamente, se despir da civilidade dos trajes e partir correndo para o mundo que, à revelia, haviam deixado para trás. Ou seja, mais uma prova da flexibilidade dos nossos mais novos cristãos educados.

O filme

Esta, aliás, é uma das primeiras cenas de Criação (2009), filme dirigido por Jon Amiel em cartaz desde a última sexta, dia 30, no Cine Com-Tour, e uma das muitas histórias que Charles Darwin, na época com cerca de quarenta e poucos anos, contava aos filhos na pacata Down House, casa de campo em que vivia com a família na Inglaterra. Histórias estas vindas não dos livros, mas de sua já vasta experiência em terras distantes a bordo desse mesmo HMS Beagle, marco da busca pelos elementos que mais tarde dariam forma ao clássico A Origem das Espécies, repositório da teoria que subverteu a maneira do homem enxergar a si mesmo, desafiou os dogmas da igreja e ainda hoje suscita as mais fervorosas discussões entre os que concordam com ela e os que a repudiam.

Entretanto, polêmicas à parte, o mote do filme são seus anos de reclusão. Justamente aqueles que antecederam o término e o lançamento do famoso livro. Anos de intensos conflitos internos ligados às suas descobertas e à sua fé, à perda da filha precoce e favorita, ao hiato surgido entre ele e a esposa por conta das crenças em oposição e do virtual distanciamento da família. Fatos que, aos poucos, o jogaram cada vez mais fundo para dentro de si e para o interior do escritório -um dos pouquíssimos lugares que ainda se sentia relativamente à vontade- e que tiveram que ser superados para que a obra fosse concluída.

No filme, Paul Bettany está muito bem caracterizado no papel de Darwin e Jennifer Connelly, sua esposa também na vida real, dá a devida discrição à religiosa Emma. Todavia, não espere nada de concreto em relação às incursões de Darwin a bordo do Beagle, nem mesmo às polêmicas geradas após a publicação da obra. Os maiores atrativos do longa estão, exatamente, na oportunidade de conhecer a intimidade do autor num momento crucial de sua vida e carreira -que, aliás, mexeu profundamente com nossas próprias vidas- e também no fato de que o roteiro, de John Collee, foi baseado no livro Annies’s Box, do ambientalista inglês Randal Keynes, tataraneto de Darwin. Não deixe de vê-lo.

 

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

__________________  
Criação (Creation, Inglaterra, drama, 148min, 2009). Diretor: Jon Amiel. Elenco: Paul Bettany (Charles Darwin), Jennifer Connelly (Emma Darwin), Jeremy Northam, Toby Jones, Benedict Cumberbatch, Jim Carter, Martha West (Annie Darwin). Onde: Cine Com-Tour UEL. Av. Tiradentes, 1241. Quando: 30/07 a 05/08 com sessões às 16h e às 20h30. Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Maiores informações: 43.3347.8639 (das 14h às 18h).

sábado, 24 de julho de 2010

Sede de Sangue, de Park Chan-Wook, estreia no Cine Com-Tour

Estreou ontem, dia 23, no Cine Com-Tour, Sede de Sangue (2009), último filme do sul-coreano Park Chan-Wook, diretor da aclamada Trilogia da Vingança, conjunto vencedor de importantes prêmios, dentre os quais o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes, em 2004, por Oldboy.

 

A Trilogia da Vingança, do sul-coreano Park Chan-Wook, é composta por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005). (Fotos: Divulgação)

Sede de Sangue

Sang-Hyun, padre católico, correto e idealista, se oferece para participar, como cobaia, do desenvolvimento de uma vacina para a cura de um vírus mortal. Inoculado em seu corpo, não demora muito para que os sintomas apareçam, ele enfraqueça e morra em seguida -assim como todos os demais voluntários. Entretanto, segundos após sua morte, algo estranho acontece e ele retorna à vida.

Por ser padre, ter sido o único “sobrevivente” do processo e, principalmente, por ter sido trazido de volta à vida, assim que sai do confinamento, passa a ser visto como uma espécie de santo milagreiro. Porém, ao contrário do que aconteceria aqui no Ocidente -principalmente, num país católico como o nosso-, a situação não chega a fugir do controle e ele continua tendo uma vida relativamente tranquila como pároco e voluntário num hospital. Isto, é claro, até ser abordado por uma mãe em desespero que, ciente do episódio, suplica sua interceção junto ao filho com câncer.

Ao ser atendido, entretanto, o paciente percebe tratar-se de um velho amigo de infância e, considerando que, de fato, tem uma melhora súbita -independente desta ter sido ou não fruto das orações-, o padre passa a frequentar sua casa, repartir lembranças, amigos e, mais tarde, sua própria esposa. Fato, aliás, que tem início no exato momento em que começam a pipocar os primeiros sintomas de que algo de muito estranho ocorrera assim que recebeu o sangue desconhecido -que, aliás, mais tarde entendeu não ter sido apenas o responsável por trazê-lo de volta à vida, mas também por transformá-lo… num vampiro.

Apesar do inusitado da situação, o mais interessante a partir daí, é justamente a reviravolta que ocorre na vida de todos ao seu redor, mas acima de tudo -como já era esperado-, em sua própria vida e na da amante. Primeiro, pela ampliação do conflito interno já exercido pelo sacerdócio e pelo celibato e por sua nova condição animalesca, instintiva e sobre-humana, em que os desejos -antes, suficientemente contidos- passam a aflorar como jamais o fizeram. Mais tarde, pelo que torna sua amante, que por não compartilhar de suas crenças, toma um rumo que vai exigir ainda mais de sua fé e de suas estruturas moral e psicológica, já tão abaladas.

Apesar do início um pouco lento, principalmente para quem não está habituado a esse tipo de filme, o diretor consegue atualizar o gênero de forma verossímel -até onde isto é possível, obviamente-, mas, principalmente, sem cometer o despautério de propor vampiros vegetarianos e que brilham à luz do sol. O final, clássico, porém permeado de bom humor e criatividade -uma constante ao longo do filme, apesar do (supostamente) desmentido do trailer-, honra a tradição vampiresca e faz deste mais um ótimo filme do diretor sul-coreano. Não deixe de assisti-lo.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

__________________  
Sede de Sangue (Thirst, Coreia do Sul, terror, 133 min, 2009). Diretor: Park Chan-Wook. Elenco: Kang-ho Song, Mercedes Cabral, Ok-bin Kim, Hae-sook Kim, Ha-kyun Shin, In-hwan Park. Onde: Cine Com-Tour. Av. Tiradentes, 1241. Quando: 23-29/07 com sessões às 16h e às 20h30. Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Maiores informações: 43.3347.8639 (das 14h às 18h).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Terminado o I Encontro Paranaense de Composição Musical

Terminou ontem o I Encontro Paranaense de Composição Musical, evento pararelo ao 30º Festival de Música de Londrina. O evento discutiu o panorama atual e futuro da composição musical contemporânea.

Ocorrendo desde segunda-feira, dia 19, no auditório da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina), o encontro inaugurou um espaço para a discussão do panorama atual da composição paranaense e também dos rumos e tendências da criação musical contemporânea. Nesta primeira edição, que teve seu desfecho ontem no Teatro Zaqueu de Melo, o encontro contou com a presença de cinco compositores paranaenses de larga experiência na área: Arrigo Barnabé, Chico Mello, Rogério Krieger, Harry Crowl e Mário Loureiro.

Ontem, no Zaqueu, o objetivo foi apresentar parte da produção desses autores -raramente acessíveis, em sua maioria-, a um público ávido por novidades -e, em boa parte, envolvido em cursos e oficinas do festival-, que sim, gostaria de ver, no palco, o resultado prático das ideias debatidas pelos compositores durante os três dias do evento. Apesar da demora excessiva para o início por conta de uma avaria no piano, o recital teve grandes momentos. Parte do resultado pode ser visto abaixo com a apresentação de duas das obras executadas na ocasião: “Improviso”, de Arrigo Barnabé, e “Marcha Acerba”, de Henrique de Curitiba, paranaense falecido em 2008 e irmão do fundador do festival, Norton Morozowicz.

“Improviso”, composição de Arrigo Barnabé executada pelo próprio, ao piano, e por Paulo Braga, ao teclado. Por mais que eu tentasse não mexer a câmera, foi impossível não tremer a imagem. (Vídeo: CWDB)

Abaixo, a transcrição do programa na exata sequência das apresentações: 

Mário Loureiro

Mutações (Camilo Carrara, violão)

Aestus (Camilo Carrara, violão; Fernando Kozu, violão; Ângela Ferrari, violoncelo)

 

Chico Mello

Das Árvores (Paulo Braga, piano; André Erlich, clarinete; Gilberto Gianelli, trombone; Rodrigo Capistrano, saxofone; Waldir Bertiplagia, contrabaixo; Marcelo Casagrande, percussão)

 

Mário Loureiro

Choro (Ana Paula Micheletti, piano)

Doces (Robson Porelli, piano; Naija Santiago, voz)

 

Arrigo Barnabé

Fantasia (Paulo Braga e Karin Fernandes, piano a 4 mãos)

Improviso (Arrigo Barnabé, piano; Paulo Braga, teclado)

 

Henrique de Curitiba

Marcha Acerba (Nadia Belneeva, piano; Nailson Simões, trompete)

 

“Marcha Acerba”, composição de Henrique de Curitiba executada por Nadia Belneeva, ao piano, e Nailson Simões, no trompete. (Vídeo: CWDB)

Para quem ainda não assistiu a nenhuma das apresentações, ainda há tempo. Uma dica interessante -e que muito provavelmente vai agradar até quem não está habituado à música de concerto-, é a apresentação da cantata profana Carmina Burana, de Carl Orff (1895-1982) pela Orquestra Sinfônica e pelos Solistas e Coro do Festival que, na ocasião, estarão sob a regência do maestro japonês Daisuke Soga. Assim como na abertura, o concerto de encerramento do festival poderá ser visto em duas ocasiões: no dia 23, sexta-feira, e no dia 24, sábado. Ambas ocorrerão no Teatro Ouro Verde, às 20h30, com ingressos a R$ 15 (inteira) e a R$ 7,50 (meia).

Bom concerto e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Arrigo canta Lupicínio

Neste domingo, 18, o 30º Festival de Música de Londrina apresenta uma de suas atrações mais esperadas: Arrigo Barnabé com o show “Caixa de Ódio - o universo de Lupicínio Rodrigues”. Para quem ainda não conhece Lupicínio ou conhece pouco de sua obra, trago um especial sobre o compositor gaúcho produzido pelo canal Globonews.

No Brasil existem muitos grandes compositores que mesmo alguém sem maiores preconceitos -pelo menos no tocante à boa música- pode até vir a conhecer, mas por esta ou aquela razão, acaba não conseguindo ligá-los tão facilmente às suas composições. Aliás, quando consegue. Eu, por exemplo, não fujo (totalmente) à regra. Com exceção ao Cartola, de quem fui atrás recentemente, os demais artistas que menciono neste post, são frutos de audições esporádicas compartilhadas com meu pai em vinis antigos ou de programas de rádio ou televisão recordando antigos carnavais. Se a gente perde com isto? Claro! Ou você acredita que nomes como Noel Rosa, Pixinguinha, Larmartine Babo, Herivelto Martins, Lupicínio Rodrigues e outros tantos que não me vêm agora à memória, resistiram ao tempo por mera nostalgia?

 

Lupicínio Rodrigues (Foto: Reprodução) e Arrigo Barnabé (Foto: Fernanda Serra Azul)

Bom, na tentativa de remediar este mal -ou ao menos, parte dele-, compartilho com vocês um especial sobre Lupicínio Rodrigues realizado pelo programa Arquivo N, da Globonews, em que o compositor gaúcho apresenta suas principais canções e recorda com bom humor e ironia, os episódios que lhe serviram de inspiração para as composições. Além do próprio Lupicínio, também interpretam suas canções Elza Soares, Elis Regina, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Paulinho da Viola.

No mais, aproveito para lembrar que neste domingo, dia 18, o bom gremista -autor, inclusive, do hino ao clube gaúcho- será objeto de tributo de outro grande compositor brasileiro negligenciado: Arrigo Barnabé. Arrigo, que há muito não se apresenta por aqui, vem à cidade à convite do 30º Festival de Música de Londrina com o seu “Caixa de Ódio: o universo de Lupicínio Rodrigues” [veja crítica], show em que se rende à angústia, ao sarcasmo, mas principalmente ao talento deste grande compositor gaúcho. No show, que acontece no Bar Valentino, o londrinense é acompanhado de Paulo Braga ao piano e de Sérgio Espíndola ao violão. Não percam.

Bom festival!

[ChuckWilsonDB]

__________________ 
Festival de Música de Londrina apresenta Arrigo Barnabé com o show “Caixa de Ódio: o universo de Lupicínio Rodrigues”. Onde: Bar Valentino. Av. Faria Lima, 486. Quando: 18/07 às 22h30. Quanto: R$ 15. Maiores informações: www.fml.com.br.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Festival de Música de Londrina

Começa hoje, oficialmente, o 30º Festival de Música de Londrina (FML). No concerto de hoje e de amanhã, no Cine Teatro Ouro Verde, a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (OSUEL) executa peças de Gershwin e Villa-Lobos sob a regência de Norton Morozowicz e da maestrina venezuelana Maria Guinand.

O Festival de Música de Londrina -que neste ano comemora 30 anos de história- começa oficialmente hoje, dia 12, e vai até o dia 24 de julho. E como de costume, ele foi estruturado em duas frentes: uma pedagógica e outra artística. A primeira, que tem como objetivo propor alternativas e novos direcionamentos ao saber e à prática musicais, contará com 55 cursos divididos em módulos como os de práticas de conjunto (orquestra e banda sinfônicas, big band, música camerística, ópera e coral), regência, instrumentos e voz, estruturação musical, música popular, além de atividades pedagógicas voltadas ao público infantil e à terceira idade. A segunda, artística, contará com cerca de 80 concertos que serão distribuídos em vários pontos da cidade e, assim como no FILO, que teve suas apresentações estendidas a cidades como Brasília e São Paulo, o FML também programou incursões em outras praças, porém regionais: Maringá, Apucarana, Rolândia, Porecatu e Sabáudia são as cidades que também constam da grade de progamação do festival.

Principais atrações

Em grande parte retirada da grade pedagógica do evento, merecem destaque as presenças da ucraniana Julija Botchkovskaia, pianista do Conservatório de Moscou, docente da Hochschule für Musik und Theater de Hamburg (Alemanha) e integrante do ról da Steinway Artists desde 2007; da Ensemble New Hope Opera da Alemanha; dos norte-americanos do Vento Trio, grupo especialista em compositores das Américas, composto por flauta, fagote e clarinete; das pianistas coreanas Jaeeum Lee e Hy Yon Park; e também do maestro japonês Daisuke Soga, em sua quarta passagem por Londrina.

  

A pianista ucraniana Julija Botchkovskaia, os alemães da Ensemble New Hope Opera e o maestro japonês Daisuke Soga. (Fotos: Reprodução)

Quanto aos brasileiros, destaque para o tradicional concerto da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP); para o duo pianístico composto por Fábio e Gisele Witkowski; o exímio trompetista paraibano Nailson Simões; a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá, uma espécie de guardiã dos ritmos tradicionais do nordeste brasileiro que, em passagem pelos EUA, foi definida pelo jornal The New York Times -com certo entusiasmo, talvez- como “diva da música negra”; a Orquestra de Câmara Solistas de Londrina (OCSL), vencedora do Prêmio TIM de Música Brasileira nas categorias “Melhor CD Erudito” e “Melhor Projeto Visual” em 2003; além, é claro, do grande Arrigo Barnabé, compositor londrinense radicado em São Paulo desde os anos 1970 e que traz para Londrina o show “Caixa de Ódio”, uma homenagem que ele faz a outro grande compositor brasileiro, o gaúcho Lupicínio Rodrigues.

A Orquestra de Câmara Solistas de Londrina (OCSL), o trompetista Nailson Simões, os pianistas brasileiros radicados nos EUA, Gisele e Fábio Witkowski e a cirandeira Lia de Itamaracá. (Fotos: Reprodução)

Arrigo Barnabé e a Vanguarda Paulista

Para os desavisados que desconhecem Arrigo e sua obra, ele foi junto a Itamar Assumpção (1949-2003), um dos principais nomes do que se convencionou chamar de Vanguarda Paulista (ou paulistana para alguns), um “movimento” ocorrido na década de 1980 na capital paulista que subverteu os “meandros” da música popular brasileira -já que obteve maior reconhecimento de crítica que de público-, dado o viés experimental das músicas, do caráter urbano e falado das letras e também do aspecto independente dos trabalhos -muito comum hoje em dia no meio musical (mas não naquela época) pelo advento e popularização das mídias digitais e também do alcance global da internet.

Arrigo Barnabé, autor do clássico Clara Crocodilo (1980), de Tubarões Voadores (1984) e da Missa in Memoriam Itamar Assumpção (2007), em homenagem a outro ícone da Vanguarda Paulista e grande amigo do compositor. (Foto: Fernanda Serra Azul)

Concerto de abertura

Neste ano o concerto de abertura -que acontece logo mais no Cine Teatro Ouro Verde- será em dose dupla e terá três peças no programa: o Hino à Londrina, cantando à capella por Fafá de Belém -que poucos sabem, iniciou sua carreira profissional com um show na cidade na década de 1970-; o Concerto para Piano em Fá, de George Gershwin, tendo como solista o pianista -e também diretor artístico do festival- Marco Antônio de Almeida; e os Choros nº 10 para Orquestra e Coro, de Heitor Villa-Lobos. A regência da OSUEL ficará a cargo de seu ex-regente titular e um dos fundadores do festival, Norton Morozowicz, e os coros ficarão sob a batuta da maestrina venezuelana Maria Guinand. O concerto, que acontece hoje e amanhã no tradicional Ouro Verde, terá início às 20h30 e os ingressos podem ser obtidos na bilheteria do teatro a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

Bom festival!

[ChuckWilsonDB]

__________________ 
Festival de Música de Londrina. Onde: Teatro Ouro Verde, Teatro Zaqueu de Melo e espaços alternativos distribuidos por toda a cidade. Quando: de 10 a 25 de julho. Quanto: R$ 20 (show com Fafá de Belém), R$ 15 (concerto de abertura e show com Arrigo Barnabé) e R$ 10 (demais apresentações). Maiores informações: www.fml.com.br.

sábado, 12 de junho de 2010

FILO 2010: Destaques da programação nacional

Ontem começou, oficialmente, a 42ª edição do FILO. E antes tarde do que nunca, aqui vão algumas resenhas sobre três peças que, na minha opinião -de leigo, diga-se de passagem- são das mais interessantes.

Os Fofos Encenam (São Paulo)

O primeiro espetáculo que destaco é a montagem da companhia paulistana Os Fofos Encenam, uma livre adaptação do clássico Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, obra que revolucionou o teatro brasileiro. Na peça, o cenário tipicamente carioca do autor foi substituído pelo das casas de engenho nordestinas do sociólogo e  antropólogo pernambucano Gilberto Freyre, autor de Casa Grande & Senzala -obra indispensável para a compreensão do Brasil moderno. Além da mudança de ares, outro aspecto interessante é o empréstimo das memórias familiares dos atores para a composição da montagem, o que acabou conferindo um certo ar pessoal na adaptação do universo desta família supostamente modelo, porém tipicamente rodrigueana. Família, aliás, caracterizada por uma rede de paixões incestuosas que, de tempos em tempos, tem seu cotidiano interrompido para que ganhe vida o álbum da família; um retrato diametralmente oposto do que vai sendo revelado pelos atores ao longo da peça. Em cartaz desde o ano passado, Memória da Cana concorreu ao Prêmio Shell em quataro categorias: melhor direção, cenário, figurino e iluminação. Levou os dois primeiros: melhor direção para Newton Moreno e melhor cenário para Marcelo Andrade. Datas e horários: 12 (segunda apresentação) e dia 13 de junho, às 21h30. Local: Teatro FILO. (Foto: Shima)

Esther Góes (São Paulo)

Outra peça que merece destaque é Determinadas Pessoas - Weigel, monólogo que Esther Góes reencena hoje no Ouro Verde, sobre a vida de Helene Weigel, militante política, esposa e principal intérprete dos papéis femininos do alemão Bertold Brecht, um dos principais nomes da dramaturgia mundial. Dois fatos interessantes que merecem destaque é que além do espetáculo ter sido dirigido por Ariel Borghi, filho da atriz com o ator Renato Borghi, um dos fundadores do Teatro Oficina junto com Zé Celso Martinez Corrêa, sua interpretação teve o aval positivo da biógrafa da atriz alemã, Sabine Kebir, em sua passagem pelo Rio de Janeiro. Data e horário: 12 de junho, em sua segunda e última apresentação, às 20h30. Local: Ouro Verde. (Foto: Reprodução)

Boca de Baco (Londrina)

Interessante também é Navalha na Carne, peça que o grupo londrinense Boca de Baco encena em comemoração aos seus vinte anos de existência. De autoria de Plínio Marcos, um dos mais importantes dramaturgos do teatro brasileiro, a peça -que também já foi vítima da censura, assim como a de Nelson Rodrigues- se passa num quarto de bordel onde a luta de três personagens, a prostituta Neusa Sueli, o cafetão Vado e o homossexual Veludo, denota as relações de poder existentes entre eles em meio a um submundo violento e opressivo. Ao lado de Dois Perdidos Numa Noite Suja, Navalha na Carne é a obra mais encenada do autor. Datas e horários: 19 e 20 de junho, às 22h. Local: Teatro Usina Cultural.  (Foto: Milton Dória)

Na sequência, as demais peças que serão encenadas durante o festival:

Mostra Nacional:

.

-A incrível viagem da família aço, Cia. Entreato (RJ)

-A lenda do príncipe que tinha rosto, Cia. de Teatro Artesanal (RJ)

-Acorda Zé! A comadre ta de pé, Grupo Moitará (RJ)

-Aqueles dois, Cia. Luna Lunera (MG)

-Cabul, Cia. Amok (RJ)

-Cidade azul, Cia. Truks (SP)

-Doido, Elias Andreato (SP)

-Encantadores de histórias, Cia. Caixa do Elefante (RS)

-H3, Grupo de Rua /Bruno Beltrão (RJ)

-Marcelo, marmelo, martelo, Cia. Azul Celeste (SP)

-O amor de Peri e Ceci, Circo Teatro Sem Lona (PR)

-O cano, Cia. de Teatro Circo Udi Grudi (DF)

-O dragão, Cia. Amok (RJ)

-O pato selvagem, Cia. Les Commediens Tropicales (SP)

-O sobrado, Grupo Cerco (RS)

-O trenzinho do caipira, Cia. do Abração (PR)

-Ogroleto, Cia. Borogodó/Karen Acioly (RJ)

-Vida, Companhia Brasileira de Teatro (PR)

 

Mostra Regional

 

-A megera domada, Artes Cênicas UEL (Londrina)

-Berço de espuma, Papo Corpóreo (Londrina)

-Bonanza, Grupo “Aspas” (Londrina)

-Cabaré da Confraria, Cia. Confrades (Londrina)

-Drácula, Circo de Palhaços do Picolino (Londrina)

-Homens livres, Cia. Teatro de Garagem (Londrina)

-Mancha Roxa, Cia. Funcart de Teatro (Londrina)

-A metamorfose, Circo de Palhaços do Picolino (Londrina)

-Movimento mínimo, Artes Cênicas UEL (Londrina)

-Olhares grudados, Expressividade Cênica para Deficientes Visuais (Londrina)

-Pândega, Trupe Tangará (Londrina)

-Sobre o teorema ou a solidão dos objetos, Artes Cênicas UEL (Londrina)

-Yemanjá de São Saruê, Cia. de Theatro Fase 3 (Londrina)

Venda de ingressos

A bilheteria do festival está instalada no Royal Plaza Shopping. Os ingressos estão a R$ 20,00, mas existe uma extensa lista de convênios oferecida pelo evento que podem lhe poupar de 20% a 50% do valor das entradas. O festival vai até o dia 27 de junho. Maiores informações: www.filo.art.br.

Bom espetáculo e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

terça-feira, 8 de junho de 2010

FILO 2010: Destaques da programação internacional

No post de hoje, escolhi quatro peças estrangeiras que, a meu ver, merecem destaque dentro da programação do festival. Neste ano a mostra internacional vai contar com a presença de importantes atrações como as companhias de Marta Carrasco, da Espanha, Chapitô, de Portugal, Pippo Delbono, da Itália, Redmoon Theater, dos Estados Unidos e de mais sete outros países como Alemanha, França, Turquia, Romênia, Argentina, Chile e Uruguai.

Cia. Marta Carrasco (Espanha)

Um dos grandes nomes do festival, a Cia. Marta Carrasco, trará em sua segunda passagem por Londrina, um espetáculo criado e dirigido por ela mesma: Dies Irae, en el Réquiem para Mozart. No espetáculo, treze  atores, bailarinos e cantores mostram, sem concessões, a debilidade da verdade. Tendo como pano de fundo a última composição de Mozart, seu Requiem em Ré Menor (KV 626), o espetáculo vai muito além de uma missa fúnebre. Ele invoca o aroma do profano, num misto de fúria, ira, impotência e medo, mas também de irreverência, beleza e risco. Segundo uma entrevista que a atriz e coréografa Marta Carrasco deu a um semanário espanhol, o espetáculo é uma crítica à Igreja: “Com Deus não me meto, tampouco com a fé. Agora, com o instrumento, encontro motivos suficientes para rir e zombar”. Assista um trecho do espetáculo:

“Dies Irae, en el Réquiem para Mozart” (Cia. Marta Carrasco): 18, 19 e 20 de junho, às 20h30. Local: Ouro Verde. (Foto e vídeo: Divulgação)

Cia. Chapitô (Portugal)

Outro destaque desta edição é a cia. portuguesa Chapitô. Desprovido de recursos cênicos mais elaborados, o foco recai, essencialmente, na atuação dos atores. Nesta adaptação de A Tempestade, uma das obras-primas do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, três atores desdobram-se em dez estranhos personagens que desfilam uma história que envolve amores, vinganças, conspirações e traições políticas. Um verdadeiro contraponto entre a nobreza do espírito e a figura selvagem do instinto. Mas atenção: os ingressos para todas as apresentações já estão esgotados. Datas e horários: 11, 12 e 13 de junho, às 19h. Local: Teatro Zaqueu de Melo. (Foto: Divulgação)

Compagnia Pippo Delbono (Itália)

O terceiro destaque é a provocativa Guerra, montagem da companhia italiana de Pippo Delbono. Inspirado na Odisséia, do lendário poeta grego Homero, a montagem surge do desejo de representar a vida nascida na marginalidade, na doença e no sofrimento, e traduzi-la em gritos, dança e atuação. Desprovido de diálogos e personagens reais, a montagem é composta de fragmentos de histórias de pessoas que perambulam pelo mundo da anormalidade, da loucura, e que são reunidas em torno do mágico mundo do teatro. A companhia do italiano Pippo Delbono é uma das mais importantes da Europa. Datas e horários: 12, 13 e 14 de junho, às 21h. Local: Escola Municipal de Teatro. (Foto: Divulgação)

Redmoon Theater Company (EUA)

Outra peça interessante é The Cabinet, da norte-americana Redmoon Theater Company. Como protagonista, o maquiavélico Dr. Caligari, um hipnotizador que tem como objetivo fazer com que Cesare, seu escravo sonâmbulo, cometa atos monstruosos em seu lugar. Porém, é claro, tudo se complica quando o rapaz se recusa a matar uma jovem. O universo sombrio da montagem -que conta com estranhas marionetes e máquinas complexas- tem como inspiração o clássico do expressionismo alemão O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari), filme terror de 1919. A história é uma crítica à figura das autoridades alemãs -na história representadas pelo louco Caligari-, que impõem sua vontade sobre a sociedade -neste caso, representada pelo jovem sonâmbulo-, conduzindo-a a atitudes impensadas e, por consequência, trágicas. Mas assim como no caso da Cia. Chapitô, há um detalhe: todos os ingressos já estão esgotados.

“The Cabinet” (Redmoon Theater Company): 12, 13 e 14 de junho, às 21h. Local: Escola Municipal de Teatro. (Foto e vídeo: Divulgação)

As demais montagens:

 

-Braquage, Cie. Bakélite (França)

-Dervish, Ziya Azazi (Turquia)

-Diciembre, Teatro en el Blanco (Chile)

-Don Juan, memória amarga de mi, Companyia Pelmànec (Espanha)

-El último herdero, Cia. Teatro Viaje Inmovil (Chile)

-Gatomaquia, La Cuarta Colectivo Artístico (Uruguai)

-Intérieur nuit, Jean-Baptiste André (França)

-La gigantea, Cie. Les Trois Clés (França/Brasil/Chile/Romênia)

-La noche antes de los bosques, Mike Amigorena (Argentina)

-LIFE.stories, Marc Schnittger (Alemanha)

-Modules, Jean-Baptiste André (França)

-Neva, Teatro en el Blanco (Chile)

Venda de ingressos

Assim como nos anos anteriores, a bilheteria do festival foi instalada no Royal Plaza Shopping. Os ingressos estão a R$ 20,00, mas existe uma extensa lista de convênios oferecida pelo evento que podem lhe poupar de 20% a 50% do valor das entradas. Neste ano, entretanto, os ingressos estão sendo vendidos em dois lotes. O primeiro, que já está à venda, compreende os espetáculos apresentados entre 10 e 19/06. O segundo, voltado para o período entre 20 e 27/06, só começará a ser vendido a partir desta quinta-feira, dia 10/06. Maiores informações: www.filo.art.br.

No próximo post, a vez é dos destaques nacionais.

Bom espetáculo e até a próxima!

[ChuckWilsonDB]

domingo, 6 de junho de 2010

O festival de todas as artes está de volta

Na próxima quinta-feira, dia 10 de junho, começa a 42º edição do FILO. Conheça um pouco da história do mais antigo festival da América Latina e também do contexto que envolveu sua criação, em 1968.

Um turbilhão de acontecimentos marcantes tomaram o mundo de assalto no mítico ano de 1968. Época em que uma primavera tencionava humanizar a ortodoxia stalinista no leste europeu, mas que logo seria solapada pelos tanques soviéticos. Em que dois grandes líderes mundiais seriam assassinados e uma mal fadada guerra a um pequeno país asiático, resultaria num grande movimento pela não-violência e numa amarga derrota para uma grande potência. Época também de repressão no Brasil. De guerra contra os subversivos (com e sem aspas). De tortura. De exílio. Época em que um grupo de universitários e intelectuais londrinenses fariam brotar um festival que hoje, 42 anos mais tarde, além de ser o mais antigo da América Latina, é considerado patrimônio cultural do teatro brasileiro pelo ICOMOS/Unesco.

       

Fatos marcantes de um ano mítico: Primavera de Praga (antiga Tchecoslováquia); edição especial da revista Life sobre o assassinato de Martin Luther King; assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy; lançamento do filme Yellow Submarine dos Beatles; Guerra do Vietnã; lançamento de 2001: Uma Odisséia no Espaço, filme de Stanley Kubrick; Edson Luís Lima Souto, o estudante morto por um policial no Rio de Janeiro, foi o que deu início à simpatia da opinião pública pela causa estudantil; o jornalista Wladmir Herzog assassinado durante o AI-5; cartaz do FILO (Festival Internacional de Londrina). (Fotos: Reprodução)

Jogos Universitários, Festival Universitário, FILO

Em 1968, o desejo de um estudante engajado de desenvolver uma base cultural na cidade, faria com que um grupo de faculdades isoladas decidisse expandir os horizontes de um festival esportivo, transformando-o no I Festival Universitário de Londrina. Délio César, o tal estudante, chegou à conclusão de que os Jogos Universitários não supriam essa necessidade e, assim, idealizou algo mais amplo, heterogêneo, que pudesse integrar várias vertentes culturais, dentre elas a música e o teatro. Nascia assim o embrião do FILO (Festival Internacional de Londrina).

 

Três figuras marcantes na história do FILO: o jornalista Délio César, idealizador do festival, a médica Nitis Jacon, sua presidente de honra, e o jornalista Apolo Theodoro, voluntário, ator e diretor de várias peças encenadas no festival. (Fotos: Reprodução).

Embrião concebido, foi a vez de Nitis Jacon entrar em cena. Fundadora dos grupos Gruta, Núcleo e Proteu, a ex-vice-reitora da UEL (Universidade Estadual de Londrina), ex-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra e, atualmente, presidente de honra do FILO, foi uma figura-chave para o sucesso e a longevidade do festival. À convite do próprio Délio César, ela compôs, inicialmente, a comissão julgadora do braço musical do evento. Quatro anos mais tarde, porém, ela assumiria suas rédeas, aceitando o convite para integrar a CAC (Coordenadoria de Assuntos Culturais) da recém criada UEL, em 1971. Com isto, Nitis assumiu seu setor de teatro e, em seguida, tornou-se diretora da quarta edição do evento que, a partir de então, passou a contar com a chancela da universidade. O festival, entretanto, só passaria a ter o nome e a configuração que hoje conhecemos, em 1990. Sobre o novo nome escolhido, Nitis esclarece*: “Queríamos fugir do costumeiro FIT e, brincando com as tiradas do bizarro Jânio Quadros, a equipe dizia: FILO porque Qui-lo. Nós quisemos, todo mundo acabou querendo.” E assim ficou.

*em entrevista ao portal Planeta Londrina.

Marcos na história do festival

Foram muitos os momentos marcantes do festival, mas muitos também foram os desafios ao longo dessas mais de quatro décadas de atividade. Cenários, foram os mais diversos. Repressivos, redemocratizantes, economicamente desastrosos. Em comum, entretanto, a dificuldade de levantar recursos para mantê-lo vivo sem perda de qualidade, nem de ousadia.

Centremo-nos, porém, nas realizações. Como em 1988, ano de sua internacionalização, quando foi realizada -pela primeira vez no Brasil- a Mostra Latino-Americana de Teatro, um marco para as artes cênicas brasileiras. Ou em 1994, quando Londrina se tornou a primeira cidade fora do continente europeu a sediar uma sessão pública do ISTA (International School of Theatre Antropology), um centro de investigação no campo da antropologia teatral, fundado em 1979, por Eugenio Barba -um dos principais nomes do teatro mundial. Ou ainda em 1998, ano em que realizou a única exposição individual, ainda em vida, do fotógrafo Haruo Ohara (1909-1998). Ou 2000, quando passou a exercer, oficialmente, sua vocação multifacetada de Festival de Todas as Artes, englobando aos seus interesses diferentes segmentos artísticos como a música, a dança, o circo, a fotografia e as artes plásticas.

Kazuo Ohno

Nomes de peso passaram por aqui. Como em 1992, ano em que Kazuo Ohno, criador e mestre do teatro Butoh, arte que mistura dança e artes dramáticas, retornou quinze vezes ao palco para agradecer os aplausos, até que seu filho, Yoshito Ohno, pedisse que não mais o aplaudissem, já que ele estava cansado e, enquanto houvesse aplausos, ele voltaria para agradecê-los. O coreógrafo e dançarino japonês, então com 86 anos, viria a morrer dezessete anos mais tarde, coincidentemente, na última terça-feira, 1º de junho, vítima de insuficiência respiratória. [Veja matéria no Metrópolis]

Eugenio Barba e Peter Brook

Outros momentos marcantes ocorreram nas passagens do italiano Eugenio Barba -e sua lendária Odin Teatret (Dinamarca)- e do diretor britânico Peter Brook, dois dos principais nomes do teatro mundial. A primeira passagem de Barba se deu em 1991, com a Mostra Odin Teatret, ocasião em que apresentou quatro espetáculos, além de filmes, conferências, cursos e oficinas. A segunda ocorreu em 1994, onde encenou Theatrum Mundi, peça montada sobre um palco flutuante no Lago Igapó, e na já comentada 8ª edição pública do ISTA (International School of Theatre Antropology). E a terceira e última ocorreu em 2008, ano em que foi comemorado o 40º aniversário do festival, onde encenou Os Sonhos de Andersen, espetáculo baseado em anotações do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), autor de clássicos infantis como O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador, O Soldado de Chumbo e Polegarzinha.

No mesmo 2008, o festival também teve o prazer de receber o renomado diretor britânico Peter Brook -e sua cia. Theatre des Bouffes du Nord-, com a peça Fragments, montagem que reúne quatro pequenas peças e um poema de Samuel Beckett (1906-1989). Brook, que já co-dirigiu a tradicional Royal Shakespeare Company ao lado de Peter Hall, hoje está à frente de seu próprio centro de estudos em Paris, o Centro Internacional para a Investigação Teatral, onde desenvolve pesquisas sobre as origens do teatro.

Outras Companhias

Além desses mestres do teatro contemporâneo, foram memoráveis também as passagens da companhia argentina De La Guarda, com o espetáculo Período Villa Villa (1996); da prestigiosa -porém extinta- companhia canadense Carbone 14, de Gilles Maheu (1997) -que só aceitaram vir com a montagem Les Âmes Mortes por se tratar do FILO, uma vez que ela sequer cabia no Ouro Verde-; e da diretora alemã Angie Hiesl (1998), com a intervenção X-Vezes Gente Cadeira (x-mal Mensch Stuhl), onde atores da terceira idade -da londrinense Cia. Fase 3-, foram colocados em cadeiras pregadas às paredes externas de vários prédios da cidade, praticando afazeres cotidianos como, por exemplo, comer uma fruta, costurar um vestido ou escrever poemas e soltá-los ao vento.

Fotos: [1] Eugenio Barba por Piotr Topperzer - [2] Haruo Ohara por Haruo Ohara - [3] Kazuo Ohno por Fondazione Meeting per l'amicizia fra i popoli - [4] Peter Brook - Reprodução.

No próximo post, os destaques da programação internacional.

Até a próxima!

[ChuckWilsonDB]